Século 20

De sírio-Libaneses a japoneses, motivos parecidos

Imigração é reforçada pela instabilidade econômica e social nos dois países

Logo no início do século 20 Pelotas passa a falar também o árabe. Com o fim do império Turco-Otomano e o crescente número de conflitos político-religiosos na região, centenas de sírio-libaneses, de maioria católica, migram para cá em busca de terra fértil e de paz - a decadência do império coincide com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Estabelecidos principalmente no comércio, hoje se encontram nos mais diferentes ramos - a hotelaria, por exemplo - e respondem por sobrenomes conhecidos do pelotense: Curi, Hallal, Alam, entre outras variantes. 

“A comunidade árabe buscou o Brasil em busca de oportunidades e de um futuro, pois estava sendo massacrada pela guerra religiosa, profundamente ligada até hoje aos interesses econômicos e políticos”, acrescenta Alceu Cheuiche, representante gaúcho na Confederação Nacional das Entidades Líbano Brasileiras (Confelibra).

O avô de Antônio Karini, 77, foi um dos primeiros libaneses a desembarcarem em Pelotas, logo na virada do século 19 para o 20. De início, a ideia era passear, mas a acolhida foi boa o suficiente para prender a família na cidade, estabelecendo-se no comércio. “Hoje o Brasil tem mais descendentes de libaneses do que o Líbano tem de população”, comenta, lamentando não ter a bandeira brasileira para colocar ao lado da libanesa na hora da foto tirada por Paulo Rossi.

Karini foi um dos fundadores, em 1966, da Associação Atlética Libanesa, responsável por integrar a já muito próxima população imigrante do país em Pelotas. O órgão um ano depois se tornaria a hoje conhecida Sociedade Libanesa, de grande atuação para manter vivos os costumes do povo árabe. Isso porque há um consenso: o libanês se sentiu tão bem no Brasil que acabou por se esquecer, em parte, da própria cultura. É raro, por exemplo, entre os mais jovens, aqueles que dominam o idioma dos antepassados. “A história está se indo. Os descendentes têm de saber de onde vieram. É preciso que se faça esse resgate que estamos buscando”, comenta Daniel Medina Curi Hallal, diretor cultural da Sociedade Libanesa de Pelotas.

A abordagem se dará de forma praticamente infalível: pelo estômago. Estão programadas no local atividades que aproximem o libanês e o sírio da própria culinária, uma mistura de pratos árabes e turcos com leve toque francês, representada pelo kibe, pelo faláfel, pelos doces como a baklava.

Instabilidade econômica e social força a imigração de diversos pontos do mundo. Com isso, a cidade se torna ainda mais poliglota

Também no século 20 Pelotas aprende outra língua: o japonês, por conta de grave crise financeira e social pelas quais o País do Sol Nascente passava naquele momento - os dias ásperos duraram pelo menos até a Segunda Guerra Mundial. Por aqui, os nipônicos se instalaram na zona rural e se estabeleceram principalmente na agricultura de vegetais, mais tarde migrando para o perímetro urbano, se destacando com algumas das até hoje mais conhecidas fruteiras da cidade - a Sato é o principal exemplo. Nos anos 1960, a imigração tem novo grande fluxo, na sequência diminuindo em paralelo ao declínio econômico de Pelotas. Hoje, algo em torno de 50 famílias japonesas moram na cidade.

De fala mansa, Nagayori Yamaguchi conta que os pais chegaram por aqui na década de 1930 com o objetivo de plantar arroz. “Os japoneses que vinham para cá não tinham recursos para montar negócios, então eram obrigados a ir para a agricultura”, comenta ele que nasceu em Rio Grande, mas foi criado em Pelotas, onde há 35 anos administra loja de lãs na região da Cohabpel. Dos irmãos, ele foi o único a ficar, sem no futuro migrar para São Paulo. “Alguém tinha que cuidar dos velhos”, comenta. Da geração seguinte, nenhum ficou no Sul: os dois filhos foram para o Sudeste.

Presidente da Associação Nipobrasileira de Pelotas, Yamaguchi não tem queixas em relação ao tratamento dado a seu povo pelo pelotense. “O japonês é muito honesto, nem mesmo teria porque tratar mal”, finaliza.

 

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